5 de nov. de 2011

[Resenha] Hawkwind - Space Ritual (1973)



No final dos anos sessenta o rock n’ roll estava no auge de sua psicodelia, bandas como Deep Purple, Blue Cheer e Pink Floyd incendiavam o palco com suas apresentações inebriantes. No entanto, ninguém levou o termo “psicodelismo” tão a sério quanto os britânicos do Hawkwind.
Os três primeiros LPs do Hawkwind deixam claro sua proposta: ser uma banda psicodélicamente espacial, e levar seus ouvintes extáticos à uma viagem sonora através dos confins do universo. Em Doremi Fasol Latido, a banda, algumas vezes com colaboração do escritor de ficção científica Michael Moorcock, cria uma elaborada mitologia sobre a história do universo. E é assim, com o uso de letras espaciais e uma sonoridade alucinógena, que o Hawkwind sobe ao palco em 1972, para se apresentar em Londres e Liverpool.
Essas apresentações acabaram resultando no álbum mais bem conceituado da banda, o Space Ritual. Lançado originalmente em 1973 e relançado em CD em 1992 pela gravadora americana One Way. Não é a toa que o disco leva esse nome, de fato, os shows do Hawkwind mais pareciam um ritual do que uma apresentação. O figurino, as luzes, filmes projetados sobre a banda, poetas recitando seus textos, tudo era feito de forma a inserir os presentes em uma espécie de realidade paralela, uma viagem mental por um universo de luzes e sons distorcidos.
A alucinação começa com Earth Calling, um zunido fraco que aos poucos vai crescendo e tomando a forma de um emaranhado de sons estranhos. A chamada foi feita, agora chegou a hora de partir, afinal nós nascemos para isto.
We were born to go
We’re never turning back
We were born to go
And leave a burning track
Born to Go pega o rastro do zunido e entra com a forte base do baixo e da guitarra, marcados pelo ritmo acelerado da bateria. A nave sobe aos céus.
Na sequência temos Down Trough the Night. Destaque para a melodia do baixo e o vocal de Lemmy Kilmister, sim, o mesmo Lemmy que fundaria anos depois o Motörhead, porém sem o vocal rouco característico e muito mais “chapado”. Aliás, se tem algo que os caras do Hawkwind faziam além de levar seus fãs a viagens espaciais imaginárias era viajar por conta própria a bordo de todo tipo de substância alucinógena, o que acabava por tornar o show da banda ainda mais “psicodélico”.



Lord of Light narra a possível criação do universo, e mostra o que a banda tem de melhor, que é conseguir unir toda uma orgia de sons espaciais e transformá-los em um som pesado e agradável.
O espaço é infinito, ele é escuro
[...]
Ele não fala, ele não acorda
Não sonha
Não sabe, ele não teme
Não ama, não odeia
[...]
Espaço é a falta de tempo e de matéria
Essa é Black Corridor, que serve como introdução para Space is Deep. O destaque aqui fica por conta da bela letra, que aborda a ambição do homem diante do universo.
Vocês devem ter percebido aqui que o álbum apresenta certa cronologia entre as músicas. E essa é mais uma das atrações do show do Hawkwind, talvez o primeiro conceitual que se tem notícia.
Pausa para meditação espacial. Eletronic No. 1 o leva ainda mais fundo nas dimensões do espaço. Orgone Accumulator chega a tempo de trazê-lo um pouco para a superfície da realidade, mas bem pouco mesmo. Percebemos aqui uma forte influência do blues, aliás, poderia até ser um blues, se não fossem os efeitos sonoros sintetizados, orgânicos e psicodélicos por trás de tudo.
Já cansou das derivações da palavra psicodélico? Calma que tem mais. Uma coisa não muito comum em bandas de rock são dançarinos. Bem, o Hawkwind tinha uma dançarina. Até ai tudo bem, mas para uma banda psicodélicamente espacial como essa não basta ter uma dançarina, ela tem que dançar totalmente nua. Sim, por um bom tempo o Hawkwind contou com a participação ilustre de uma fã que subia ao palco toda noite para dançar sem uma única peça de roupa.
A "dançarina performática" do Hawkwind.
Show da banda antes de emplacarem o hit que possibilitaria as extravagâncias da turnê de Space Ritual
Voltando ao que interessa, a próxima música é Upside Down. Aqui temos um riff de guitarra simplesmente extraordinário, que funciona tão bem quanto riffs famosos como Smoke on the Whater e Paranoid. Aproveite, essa é uma das poucas oportunidades do disco em que você pode bater cabeça ao invés de permanecer em transe.



10 Seconds of Forever, é hora de voltar às reflexões estelares, mas por pouco tempo. Logo em seguida temos a longuíssima e pesada Brainstorm. 7 by 7 trás um ritmo um pouco mais cadenciado, com passagens lentas intercaladas com trechos mais pesados.
In case of Sonic Attack on your district, follow these rules…
Sonick Attack é um manual divertido de como escapar de um ataque sônico. Para isso eu aconselharia ouvir este disco em um volume seguro…
Time We Left this World Today é o que poderia ser chamado de “música refrão”, com um baixo muito agressivo e algum instrumento de sopro espacial não idetificado por trás de tudo.
Se você chegou até esse ponto sem desintegrar-se, e com todos os componentes auriculares intactos, devo informar para que aborte a viagem imediatamente. Poeira planetária voa pelos ares, a nave psicodélica do Hawkwind implode em agressividade. É a imponência de Master of the Universe, a canção mais pesada do disco, com uma base de guitarra ensurdecedora, a bateria sendo violentamente surrada, e o sintetizador ascendendo em gritos cósmicos.



A viagem está chegando ao seu destino, “bem vindos ao futuro”, saúda a voz da despedida. Os presentes são submetidos a um último vórtice sonoro, a psicodelia chega ao fim. Mas os viajantes do espaço querem mais, e a banda finaliza com a não menos psicodélica You Shouldn’t Do That.
Tracklist
CD 1
01 – Earth Calling
02 – Born to Go
03 – Down Through the Night
04 – The Awakening
05 – Lord of Light
06 – Black Corridor
07 – Space Is Deep
08 – Electronic No. 1
09 – Orgone Accumulator
10 – Upside Down
11 – 10 Seconds of Forever
12 – Brainstorm
CD 2
01 – 7 by 7
02 – Sonic Attack
03 – Time We Left This World Today
04 – Master of the Universe
05 – Welcome to the Future
06 – You Shouldn’t Do That

4 comentários:

Saudações.
Em nome do Estranho Mundo de Mary quero informá-lo que já adicionamos seu banner entre os dos nossos parceiros.
Seja bem-vindo ao EMM!

Opa, valeu, seja igualmente bem vindo.

Cara, sou muito fã de Hawkwind esse álbum é um das maiores viajens de todos os tmpos, para mim que sou fã de Space Rock eles não possum álbum ruim, todos são excelente.

Adorei a frase: "Aproveite, essa é uma das poucas oportunidades do disco em que você pode bater cabeça ao invés de permanecer em transe." Falando de Upside Down, tenho essa mesma impressão.

Já estou seguindo, Sou Leandro, meu twitter é LLArruda.
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Até mais, vou sempre aparecer, pois o blog é show.

Pois é cara, ainda não ouvi a discografia completa da banda mas pelo que ouvi ainda não achei nada que possa ser chamado de ruim mesmo.

Valeu, já dei uma passada lá no seu blog, bem bacana.

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